sexta-feira, 27 de junho de 2014

Roméo et Juliette

Você sempre costuma reclamar das colegas da faculdade. Não sei como, mas as meninas que sentam na frente sempre conseguem incomodá-la de alguma forma. Às vezes eu penso em dizer que você deve relaxar e deixar de lado essas intrigas que devem ser coisa da sua mente. Porém, sinceramente, eu gosto de ouvir suas reclamações e de ficar com mirabolantes ideias até você largar aquele angelical:

 - Tu acredita?

Bem, eu nunca acredito. Algumas vezes nós temos algumas discussões mais filosóficas sobre o que aconteceu em determinado momento e, na maioria das vezes, eu tento dizer que a cara de "nojinho" dela talvez não tivesse nada a ver e você poderia ficar de boa.

De vez em quando, eu gosto da sua pirraça - o que é muito diferente de quando você fica zangada. Tipo aquela vez que você ficou me contando do dia em que elas foram reclamar da nota injusta - que, segundo você, não era injusta - e o professor venceu o debate e as deixou num embaraço. Eu estava tranquilo no sofá e você sentada na ponta me contando essa história até que eu te interrompo, antes do "Tu acredita?" e falo:

- Eu tenho cookies! Por que eu quero falar sobre suas colegas podendo estar aqui comendo meus cookies?

Meio que me arrependo da infame brincadeira, até por que seu biquinho e a cara de ódio me intimidaram. E, depois de uns segundos que me deixaram sem graça, você não aguenta e sorri tão ingenuamente. Eu sorrio junto, não pela piada, mas por poder desfrutar de uma luz tão leve quanto a sua e, quando percebo isso, me sinto feliz.

Sei lá, tudo que eu sempre quis era um amor bucólico e você é a melhor para me dar esse sossego tão desassossegado. Quando volto a mim, vejo você ainda sorrindo e me deixo recostar no sofá e, ainda com um riso no rosto, deixo de te admirar e viro a cara para o outro lado, ainda com aquela sensação de deleite.

E, assim, do nada, você se joga em cima de mim e me perfuma.  E eu fico naquela posição meio que sentado quase deitado, com o calor do seu hálito nas minhas costas, provenientes da sua risada que ainda prosseguia. Eu meio sem entender, até que você diz:

- Adoro sua covinha.

Sua suavidade me desmancha. Nem a aquarela mais linda poderia descrever meus sentimentos, nem Shakespeare, em seus dias mais puros, poderia sonetear minha vibração. Você levanta e eu também, beijo seu rosto e desligo a tevê.

Abro meu quarto para você entrar... aprecia o quarto por inteiro. Noto uma certa alegria que você tenta ocultar. Então, você fala algo sobre o livro que está em cima da mesa e eu tiro da cama o violão e falo algo sobre ele estar desafinado. Aí você senta na cama e, de leve, eu empurro seus ombros para trás e você cai. Finalmente, deitamos juntos.

Por fim, desligo as luzes, para que possamos ver as estrelas.



Ford Madox Brown, Romeo and Juliet (1867)