Você sempre costuma reclamar das colegas da
faculdade. Não sei como, mas as meninas que sentam na frente sempre conseguem
incomodá-la de alguma forma. Às vezes eu penso em dizer que você deve relaxar e
deixar de lado essas intrigas que devem ser coisa da sua mente. Porém,
sinceramente, eu gosto de ouvir suas reclamações e de ficar com mirabolantes
ideias até você largar aquele angelical:
- Tu
acredita?
Bem, eu nunca acredito. Algumas vezes nós temos
algumas discussões mais filosóficas sobre o que aconteceu em determinado
momento e, na maioria das vezes, eu tento dizer que a cara de
"nojinho" dela talvez não tivesse nada a ver e você poderia ficar de
boa.
De vez em quando, eu gosto da sua pirraça - o que é
muito diferente de quando você fica zangada. Tipo aquela vez que você ficou me
contando do dia em que elas foram reclamar da nota injusta - que, segundo você,
não era injusta - e o professor venceu o debate e as deixou num embaraço. Eu
estava tranquilo no sofá e você sentada na ponta me contando essa história até
que eu te interrompo, antes do "Tu acredita?" e falo:
- Eu tenho cookies! Por que eu quero falar sobre
suas colegas podendo estar aqui comendo meus cookies?
Meio que me arrependo da infame brincadeira, até
por que seu biquinho e a cara de ódio me intimidaram. E, depois de uns segundos
que me deixaram sem graça, você não aguenta e sorri tão ingenuamente. Eu sorrio
junto, não pela piada, mas por poder desfrutar de uma luz tão leve quanto a sua
e, quando percebo isso, me sinto feliz.
Sei lá, tudo que eu sempre quis era um amor
bucólico e você é a melhor para me dar esse sossego tão desassossegado. Quando
volto a mim, vejo você ainda sorrindo e me deixo recostar no sofá e, ainda com
um riso no rosto, deixo de te admirar e viro a cara para o outro lado, ainda
com aquela sensação de deleite.
E, assim, do nada, você se joga em cima de mim e me
perfuma. E eu fico naquela posição meio
que sentado quase deitado, com o calor do seu hálito nas minhas costas,
provenientes da sua risada que ainda prosseguia. Eu meio sem entender, até que
você diz:
- Adoro sua covinha.
Sua suavidade me desmancha. Nem a aquarela mais
linda poderia descrever meus sentimentos, nem Shakespeare, em seus dias mais
puros, poderia sonetear minha vibração. Você levanta e eu também, beijo seu
rosto e desligo a tevê.
Abro meu quarto para você entrar... aprecia o
quarto por inteiro. Noto uma certa alegria que você tenta ocultar. Então, você
fala algo sobre o livro que está em cima da mesa e eu tiro da cama o violão e
falo algo sobre ele estar desafinado. Aí você senta na cama e, de leve, eu
empurro seus ombros para trás e você cai. Finalmente, deitamos juntos.