segunda-feira, 12 de junho de 2017

Reação - Episódio IV

De que valem as próximas palavras? De que valem as próximas linhas?...


As angústias de meu espírito mobilizam o meu corpo, encorajam a minha mão e a partir do movimento dos meus dedos escrevem o que melhor em palavras posso expressar para promover em meu corpo uma reação a qual anseia o espírito angustiado. Eis o ciclo! Do espírito ao corpo e do corpo ao espírito. 

Não obstante, apesar de meu espírito discernir e assentir tal processo, como qualquer outra pessoa que promulga uma ação insubmissa, meu corpo não responde aos axiomas da minh'alma. De modo consequente, todos os pensamentos se tornam vãos, todas as mudanças idealizadas se tornam fábulas, todas as linhas sediciosas se tornam simples quimeras.

Basta! Estas linhas valerão. Eu juro que valerão.

Sei que trilho uma rota vacilante, pois, ao prescrutar um tempo não tão pretérito, memoro que encontrava-me cercado por essa mesma inquietação, fiando-me nessa mesma solução e orando esse mesmo discurso.

Por isso, cá me prostro e suplico: fazei de mim um só corpo e um só espírito. 

Sucumbirão essas palavras. Desaparecerão essas linhas. De agora em diante, em meu corpo será tatuada a reação! Cada ato, uma palavra; cada atitude, uma nova linha...

Na mesma matéria e substância. E assim será...

Faço de mim um só corpo e um só espírito.


William Blake, The Reunion of the Soul and the Body at the Resurrection (1808)

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